tag:blogger.com,1999:blog-49746192990521681672023-11-15T17:26:33.911+00:00Sonhos de DjapoorO Deus da ImaginaçãoRui Ramoshttp://www.blogger.com/profile/00683264486385239485noreply@blogger.comBlogger7125tag:blogger.com,1999:blog-4974619299052168167.post-86956543965455670462011-01-06T05:42:00.001+00:002011-01-06T05:43:44.635+00:00Batalha nas Portas Sagradas (1ª Parte)Lars estendeu o seu poderoso braço como plataforma de aterragem para o falcão peregrino que regressou da sua longa viagem. As suas garras cravaram-se na resistente pele nua do falcoeiro, sem lhe provocar qualquer lesão.<br /><br />- Que notícias trazes das Savanas Douradas, fiel companheiro? – perguntou Lars assim que a ave recuperou o fôlego.<br /><br />- Fiacha, o Rei Leão, te saúda como Senhor dos Ares, nobre Lars e pede-te ajuda nesta hora negra que se abateu sobre o reino das Savanas. – o falcão agitou as penas nervoso e prosseguiu o seu relato. – Smirlah, a cria do rei foi raptada e ninguém sabe por quem!<br /><br />Lars meditou nas implicações que aquela notícia trazia. O equilíbrio entre os sete reinos estava em risco. Pior, a própria Criação encontrava-se ameaçada caso Smirlah caísse nas mãos erradas e certos rituais fossem praticados em locais que não convinham ser tornados públicos.<br /><br />Sem mais contemplações, Lars levou o Corno de Baba Duur aos lábios e soprou com toda força.<br /><br />O som ecoou pelo Vale dos Pináculos de Marfim e das suas grutas e abrigos nas escarpas, levantaram voo legiões de aves de rapina, em resposta ao apelo do seu mestre e senhor. <br /><br />- Venham a mim, meus fiéis seguidores. O tempo urge! Smirlah a futura sacerdotisa do Círculo Branco foi raptada por agentes desconhecidos. Temos que a encontrar antes que o seu sangue seja derramado. A Criação depende de nós. Procurem-na por todo o Mundo!<br /><br />Obedientes, as aves espalharam-se pelos sete cantos do Mundo em busca da jovem princesa.<br /><br />Longe dali, no deserto de Ébano, uma extensa caravana de elefantes carregados com tendas de viagem e várias cestas de provisões, prosseguia a sua marcha por entre uma tempestade de areia que os fustigava.<br /><br />A tempestade não dava mostras de abrandar, antes pelo contrário, aumentava gradualmente de intensidade.<br /><br />Quando as condições se tornaram insustentáveis para os pobres paquidermes, saiu de uma das tendas, uma mulher que com um gesto ordenou o fim da tormenta.<br /><br />O vento cessou imediatamente e as partículas de areia suspensas caíram ao chão. <br /><br />Das restantes tendas empoleiradas nos possantes animais, saíram várias sacerdotisas que enalteceram a sua líder em profunda reverência:<br /><br />- Viva Mashira, a sábia! Viva Mashira, pela sua imensa glória!<br /><br />-Silêncio! – ordenou a misteriosa mulher com veemência. – Ninguém deve proferir esse nome nestas terras. A nossa missão deve permanecer secreta.<br /><br />Submissas as sacerdotisas retiraram-se para o interior das suas tendas e a viagem prosseguiu mergulhada em silêncio absoluto, tal como o secretismo da sua demanda o exigia.<br /><br />No interior da sua tenda Mashira removeu um lençol e descobriu a jaula dourada que aprisionava uma jovem cria de leão malhada.<br /><br />- Minha bela Smirlah, em breve, todos os nossos problemas chegarão ao fim. Todos os enigmas serão resolvidos nas Portas da Montanha Sagrada. – Sorriu a Grã-Mestre da Ordem do Círculo Branco.<br /><br />Não muito longe dali, no mesmo deserto de Ébano, dois remoinhos de vento deram forma a dois arqueiros que se prostraram aos pés da sua Rainha Tanger-Ina.<br /><br />- Senhora do Arco de Jahalam, a vós eterna glória! – saudaram a rainha e continuaram. - Nós, vossos servos fiéis, vos trazemos palavras com asas velozes como o vento. A caravana de dez mil elefantes que invadiu os vossos domínios há quase uma semana, pertencem a Mashira, a Grã-Mestre.<br /><br />- Mashira! – repetiu para consigo. – Mashira, a sábia, nos meus domínios! Então a hora chegou. O caminho para as Portas tem que ser bloqueado.<br /><br />- Invoquem o meu exército de génios do vento, vou precisar de todos os arcos disponíveis. – ordenou a Rainha aos dois batedores. – Desta vez, não permitirei que Mashira leve a sua avante. <br /><br />Do céu, as aves de Lars, Senhor dos Ares, avistaram o ajuntamento das forças de Tanger-Ina, a Arqueira de Jahalam. <br />Os sinais são evidentes, a batalha pelas Portas Sagradas está iminente!<br />As aves sentem a urgência da situação: precisam salvar a cria do Rei Fiacha das mãos das duas Arqui-inimigas. <br /><br />As peças estão em jogo e todos os caminhos conduzem à entrada da Montanha Sagrada, onde o destino do Mundo será disputado.<br /><br />(Continua)Rui Ramoshttp://www.blogger.com/profile/00683264486385239485noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4974619299052168167.post-36630995609105914972011-01-03T11:41:00.004+00:002011-01-03T12:10:54.715+00:00Mergulho ProfundoMergulho cada vez mais fundo no interior deste labirinto cósmico.<br /><br />É difícil escapar às suas armadilhas e ilusões.<br /><br />O que é real, o que é imaginação?<br /><br />Os limites do meu ser diluem-se com as memórias e fantasias projectadas por estas passagens e corredores intrincados.<br /><br />A minha personalidade funde-se com o intelecto supremo que governa esta dimensão.<br /><br />No escuro, mergulho cada vez mais fundo no interior desta divindade em busca do Grande Segredo.Rui Ramoshttp://www.blogger.com/profile/00683264486385239485noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4974619299052168167.post-23859648717047125672010-12-31T00:49:00.001+00:002010-12-31T00:49:38.947+00:00O Olho que tudo Vê 3ª e última parte- O tempo urge, - continua a voz. - os nossos inimigos seguiram-vos do futuro até aqui. Há éons que eles tentam capturar este templo sagrado. Para evitar cair nas suas mãos, decidi escondê-lo num passado remoto. <br /><br />- Vivi durante milhões de anos no exílio longe do seu olhar mas assim que as correntes cósmicas mudaram percebi que o fluxo temporal iria abrir um novo portal e permitir que eles viajassem do futuro até aqui.<br /><br />- Só me restou enviar uma mensagem de socorro às gerações futuras, numa arca que pudesse sobreviver a todas as intempéries da evolução terrestre, pois já não tinha forças para realizar outra viagem espaço-temporal para longe daqui.<br /><br />- Os primeiros mestres acabaram por arrancar aos estratos rochosos do deserto a arca com a mensagem. – intervém o homem oitocentista. - Conseguiram abri-la ao fim de vários séculos de tentativas e a mensagem encriptada foi transmitida de geração em geração até que por fim um sacerdote núbio conseguiu descodificar o seu conteúdo e, seguindo as instruções, construiu a máquina do tempo que iria permitir abrir o portal para o passado.<br /><br />- Mas a mensagem não continha apenas instruções para a construção de uma máquina do tempo. – o homem do futuro prossegue com o relato dos eventos. – Também tinha as coordenadas espaço-temporais para o viajante encontrar esta pirâmide facilmente e ainda, guardava o material genético necessário para criar o guardião perfeito. Foram necessárias várias gerações até que o Escolhido para a missão nascesse com esse material. E aqui está ele. – aponta para o homem oitocentista.<br /><br />- No entanto, o vosso enviado, - a voz na escuridão retoma o discurso. - não estava preparado para sobreviver neste ambiente hostil. A sua tecnologia rudimentar não o protegera. Vi-o chegar e sufocar à primeira inspiração. Foi necessário enviar nova mensagem para o futuro com instruções claras e precisas quanto ao necessário para levar avante esta missão com sucesso.<br /><br />Os dois homens ficam atordoados com a segunda revelação. Afinal, os seus mestres limitaram-se a seguir instruções escritas numa era geológica remota! Não tinham a capacidade de ver o passado ou comunicar com seres de diferentes espaço-tempos! Que desilusão!<br /><br />- Agora o tempo dos planos e treinos chegou ao fim. – a voz misteriosa volta a fazer-se ouvir. - Os eleitos devem tomar as suas posições e suceder-me na luta contra os nossos inimigos.<br /><br />Dito isto, uma luz acende-se de parte incerta para iluminar um cubículo talhado na parede rochosa. No seu interior, os dois homens vêem um cérebro esbranquiçado, coberto de fungos e pó.<br /><br />- A minha missão terminou. Removam-me e coloquem no meu lugar, o cérebro do novo guardião. Rápido, os nossos inimigos estão prestes a abrir uma fenda na estrutura desta pirâmide. <br /><br />O homem oitocentista remove com reverência o cérebro do seu antecessor, volta-se para o seu companheiro e diz-lhe determinado:<br /><br />- Sabes o que tens a fazer. <br /><br />O homem do futuro acena afirmativo e sem mais demoras abre-lhe o crânio com uma arma especialmente desenhada para o efeito e, com uma velocidade treinada, remove-lhe o cérebro ainda vivo para o colocar no cubículo vazio.<br /><br />De mãos quentes cobertas de sangue, o coração a martelar-lhe no peito e em estado do choque, vê o corpo sem vida do seu amigo cair desamparado em câmara lenta e desaparecer nas trevas envolventes.<br /><br />Acabara de matar aquele que ainda há pouco lhe salvara a vida. Apesar do seu treino, de toda a sua preparação para aquele momento, não consegue evitar um sentimento de mau estar e náusea. É assaltado por um turbilhão de emoções contraditórias A dúvida instala-se. <br /><br />E se tudo foi em vão?<br /><br />A luz que até então iluminara o cubículo apaga-se. Tudo volta a mergulhar nas trevas.<br /><br />Um momento de expectativa... e nada. O silêncio e escuridão profundos.<br /><br />- Falhámos! – as suas incertezas materializam-se num sussurro. – Todo este esforço conjunto durante milhões de anos… e falhámos!<br /><br />Os ruídos do ataque lá fora, intensificam-se. As explosões abalam com maior violência todo o edifício sagrado.<br /><br />Está tudo perdido! <br /><br />A pirâmide, o foco de todo o Poder, está prestes a cair nas mãos daqueles que juraram destruir a Ordem Cósmica.<br /><br />Derrotado, o homem do futuro, carrega a sua arma de plasma e prepara-se para cometer o único acto que ainda lhe resta.<br /><br />As explosões aumentam de frequência. Uma brecha é aberta, o recinto é invadido por uma presença ameaçadora, oculta pela escuridão.<br /><br />O homem levanta a arma e encosta-a à cabeça. Sente a electricidade estática a eriçar-lhe o cabelo. Não será uma morte bonita, mas não a teme.<br /><br />- Adeus mundo! Tentei mas falhei. <br /><br />Sente o invasor a acercar-se dele nas trevas. Uma sensação de enjoo revolta-lhe as entranhas e os seus ossos gelam.<br /><br />A descarga brutal da sua arma pulveriza-lhe a cabeça, salvando-o no último instante das garras do seu inimigo.<br /><br />Tentei mas falhei…Rui Ramoshttp://www.blogger.com/profile/00683264486385239485noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4974619299052168167.post-83283325041504381532010-12-22T02:11:00.002+00:002010-12-22T02:11:53.464+00:00O Olho que tudo vê (2ª parte)Com os instintos aguçados por anos de treino, o homem do futuro empurra o companheiro para o lado, salvando-o de uma dentada mortal e dispara uma descarga de energia, estorricando o dinossauro.<br /><br />Seguindo-lhe o exemplo, o homem oitocentista, solta a potência da sua arma de plasma, eliminando o outro predador.<br /><br />- Aha! Vencemos! – festejou satisfeito.<br /><br />- Não! – responde-lhe o companheiro do futuro, enquanto, puxa umas fivelas do seu estranho fato. - Esta espécie ataca sempre em grupo, mais virão. Temos que chegar à pirâmide antes que apareçam. <br /><br />- E como o faremos se não temos asas para voar? – pergunta o oitocentista com a adrenalina à flor da pele.<br /><br />- No tempo de onde venho não precisamos de asas para voar. – dizendo isto, o homem do futuro lança-se no precepício, arrastando-o consigo.<br /><br />Perplexo o homem do século XVIII, vê-se a pairar no ar.<br /><br />- Como é possível?<br /><br />- Este fato tem um sistema antigravidade especialmente concebido para esta missão. Os mestres da nossa ordem, do teu futuro e do meu presente, viram que seria necessário transpor este precipício para chegar à pirâmide.<br /><br />- Eles previram tudo! É deveras extraordinário! <br /><br />- Nem por isso, limitaram-se a olhar para o passado e registar o que seria necessário para ser bem sucedido.<br /><br />- Ainda me dá um nó na cabeça ao tentar perceber como é possível.<br /><br />O homem do futuro ri-se solidário.<br /><br />- Eu deixo as questões técnicas para os mestres.<br /><br />Os dois voam da borda do precipício até ao topo da pirâmide onde se eleva o grande Olho que Tudo Vê.<br /><br />- É aqui neste ponto entre a pirâmide e o Olho que segundo os manuscritos que encontrei junto do sacerdote núbio, encontraremos a passagem. Não olhes directamente para o Olho. – adverte o homem oitocentista.<br /><br />- Eu sei. Fui treinado toda a minha vida para este dia. – tranquiliza o homem do futuro. <br /><br />Uma descarga de energia atinge a pirâmide numa explosão, sacudindo os dois homens do seu lugar.<br /><br />Nova explosão e o homem do futuro desequilibra-se e cai do alto da pirâmide rumo ao precipício. O homem oitocentista atira-se para a frente mesmo a tempo de lhe agarrar a mão, salvando da morte.<br /><br />- Consegues içar-te pelo meu braço? – pergunta por entre os dentes cerrados num esgar de esforço. <br /><br />- Sem problemas. - O homem do futuro, atlético, conseguiu apoiar um dos pés na parede da pirâmide e com um impulso trepou pelo forte braço do amigo.<br /><br />- Obrigado! Duvido que o fato anti-gravidade tivesse energia suficiente para me salvar o pescoço da queda.<br /><br />- Agora estamos quites. – o oitocentista sorri-lhe, mas a expressão muda radicalmente. - Olha para o céu, a invasão começou! Temos que nos despachar.<br /><br />O homem do futuro levanta o olhar na direcção indicada e não acredita no que vê. Toda a vida foi treinado para esta missão, sabia exactamente o que tinha pela frente, mesmo assim, não consegue evitar o choque da visão do seu inimigo ao vivo.<br /><br />Os dois homens apressam-se a atravessar a porta que entretanto se abriu à sua frente, no espaço entre a pirâmide e o Olho radiante.<br /><br />Mergulham na escuridão. Muito ao longe conseguem ouvir as explosões abafadas do ataque. <br /><br />Faz-se ouvir uma voz que ecoa no espaço imenso:<br /><br />- A minha mensagem foi recebida.<br /><br />- Sim e nós respondemos. – dizem prontamente e em uníssono os dois homens. – Do futuro viemos para vos salvar.<br /><br />Continua.Rui Ramoshttp://www.blogger.com/profile/00683264486385239485noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4974619299052168167.post-60133595629732988222010-12-15T02:17:00.002+00:002010-12-17T15:52:15.475+00:00O Olho que Tudo Vê (1ª parte)Veneza, Carnaval de 1800.<br /><br />As ruas e canais enchem-se de cor e foliões mascarados. Música e gargalhadas ecoam pelas vielas estreitas e escuras da Eterna Sereníssima. A alegria é rapidamente oprimida pela mão pesada das tropas invasoras napoleónicas. Alguns tiros são disparados. Ouvem-se gritos. A multidão festiva dispersa, evitando as detenções.<br /><br /><br />No meio do tumulto gerado, um homem esgueira-se por uma ponte e sobe para uma gôndola que o aguardava do outro lado do canal. Paga ao gondoleiro e este condú-lo em silêncio pelas águas da cidade que adormece lentamente.<br /><br /><br />A gôndola chega ao seu destino e o homem misterioso, sem uma palavra de despedida, salta para a margem e dirige-se a uma porta fechada de uma velha moradia. Bate-lhe com o toque secreto que lhe foi segredado de manhã no mercado em frente à catedral de São Marcos. A porta abre-se e dá-lhe passagem para o interior.<br /><br /><br />Um mordomo mascarado recebe-o com um archote e guia-o por uma escadaria em espiral que desce até às catacumbas mais profundas e antigas de Veneza. À sua espera, encontra-se um grupo de homens bem vestidos, mascarados e de aparência aristocrática. <br /><br /><br />- Sê bem-vindo, confrade! Trazeis o artefacto?<br /><br /><br />- Sim, a expedição ao Egipto foi um êxito! Consegui encontrá-lo dentro da múmia do sacerdote núbio Akothep.<br /><br /><br />- Óptimo! Temos que nos despachar, antes que as tropas de Napoleão nos encontrem.<br /><br />A irmandade secreta não perde mais tempo, forma um círculo à volta do artefacto e dão início ao ritual.<br /><br /><br />Alguns minutos depois, a catacumba ilumina-se por uma cor fosforescente e uma porta inter-dimensional abre-se a partir do artefacto.<br /><br /><br />- A passagem está aberta! Parti, caro irmão, e que os mestres vos concedam triunfo. O nosso futuro depende do vosso sucesso.<br /><br /><br />O homem misterioso despede-se dos companheiros e, sem hesitar, atravessa o portal. <br /><br />Do outro lado, encontra uma floresta luxuriante repleta de seres vivos que ele apenas conhecia do registo fóssil. Mas o seu fascínio depressa é suplantado por uma constatação grave: não consegue respirar! <br />Tenta dominar o pânico mas acaba por desfalecer.<br /><br />Os sentidos regressam lentamente e o homem misterioso desperta para a vida. Leva as mãos à cara e sente que esta está protegida por uma máscara estranha de vidro.<br /><br />- É uma máscara de oxigénio. Se fosse a ti, não a tirava, pois o ar deste sítio é-nos tóxico. - responde-lhe um desconhecido com o rosto tapado por uma máscara igual à sua.– Na época em que foste enviado era-vos impossível saber que a atmosfera neste período pré-histórico nos é irrespirável, por isso, os mestres da nossa ordem, no teu futuro, acharam por bem enviar-me com a tecnologia necessária para te assistir na tua importante missão.<br /><br />- Toma. – continuou o homem do futuro. – É uma pistola de plasma. Liberta descargas eléctricas, como se fosses Zeus em pessoa. <br /><br />O homem oitocentista olha para a arma simples que se assemelha a um bastão curto com um botão a servir de gatilho.<br /><br />- Agora temos que nos despachar, está quase na hora. – informa o homem do futuro com um tom imperativo.<br /><br />Sem mais palavras, os dois membros da ordem secreta correm pela floresta densa do Cretácico, rumo ao seu destino.<br /><br />Chegam por fim à borda de um precipício que se abre sobre uma cratera profunda. Várias cataratas enchem o seu fundo com um lago cristalino, formando uma paisagem de cortar a respiração.<br /><br />A pairar no ar sobre o espelho de água, está uma pirâmide colossal construída de metal e pedra talhada, coroada por um olho radiante como uma estrela. <br /><br />- O Olho que tudo vê! – exclama o homem oitocentista.<br /><br />Os dois fitam hipnotizados o olhar supremo da pirâmide. <br /><br />De imediato, são inundados por uma torrente de imagens, tudo aquilo que foi, que é e um dia será, condensados num instante estonteante. Todos os fluxos temporais do cosmos confluem para aquele momento. O homem oitocentista confirma a gravidade da sua missão. Tudo depende dele. Não pode falhar. <br /><br />Um uivo cacarejado arranca-os de volta ao tempo presente. Ouvem-se vários outros uivos em resposta ao primeiro, lançando o pânico esvoaçante na floresta circundante. Os instintos de sobrevivência disparam, estão em risco de vida.<br /><br />Continua.Rui Ramoshttp://www.blogger.com/profile/00683264486385239485noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4974619299052168167.post-45988026308334300662010-11-25T12:33:00.001+00:002010-11-25T12:33:53.758+00:00A PortaUma vibração percorre todo o meu corpo e desperta-me para a dor. Os meus ossos são sacudidos como se um terramoto tivesse o seu hipocentro dentro de mim. Abro os olhos em estado de choque. O que se passa? O que é isto?<br /><br />O quarto está mergulhado numa luz esverdeada, doentia, sobrenatural. Olho para o meu corpo deitado na cama, coberto de suor e abalado violentamente por ondas sísmicas internas.<br /><br />A intensidade aumenta e torna-se insuportável. Vou estilhaçar-me! <br /><br />Tento gritar mas o ar é tão espesso como gelatina que abafa o som.<br /><br />Isto não pode estar a acontecer! Só pode ser um sonho!<br /><br />O meu cérebro luta para manter-se lúcido e sobreviver à dor. <br /><br />Só pode ser um sonho! Repito vezes sem conta, até conseguir controlar o sofrimento real que o meu organismo está a experimentar.<br /><br />Tenho que sair daqui! Tenho que acordar!<br /><br />Ainda a ser atravessado por tremores de dor aguda, esforço-me por levantar da cama onde dormia até há instantes. Descubro com desespero, que a força da gravidade aumentou para o dobro e a atmosfera gelatinosa que me envolve, prende-me os movimentos.<br /><br />Isto é só um sonho! Convenço-me. Eu consigo!<br /><br />E com um esforço incrível de vontade e força física rasgo aquela substância pegajosa e avanço penosamente e com muito custo, rumo à porta do quarto.<br /><br />Os abalos que me fustigam e drenavam a energia, ganham nova violência e espalham-se, agora, por todo o quarto. A própria matriz do Universo ameaça colapsar. Debato-me por manter o equilíbrio.<br /><br />A porta está a poucos passos de distância mas aquela atmosfera densa, quase sólida, que me obriga a espremer-me para a atravessar, mais os tremores que abanam tudo que é interno e externo desta realidade contra-natura, tornam a minha progressão numa missão quase impossível!<br /><br />A dor é insuportável! Estou esgotado! Não posso mais!<br /><br />Conquisto mais um passo e a porta de saída fica mais próxima. A porta da minha salvação!<br /><br />Tenho que conseguir!<br /><br />Mais outro passo e estico a mão em direcção à maçaneta da porta, perfurando a gelatina que me envolve.<br /><br />A dor! É tão intensa!<br /><br />Estou quase a tocar-lhe com a ponta dos dedos. Estou quase a escapar deste inferno sísmico e gelatinoso de dor excruciante…<br /><br />De repente, uma luz perfurante surge por detrás da porta, escapando-se pelas suas frinchas, atingindo-me os olhos. Fecho-os por reflexo. <br /><br />O desespero invade-me como uma torrente furiosa e esmaga o meu espírito martirizado e esgotado. As dores não me dão tréguas. Estou a perder-me…<br /><br />Não posso desistir! Volto a lutar para manter o controlo. Isto é só um sonho!<br /><br />Semi-abro os olhos com receio de os ferir com a nova luminosidade e vejo a porta a ser abanada freneticamente por uma força invisível. Alguém ou alguma coisa está a tentar arrombá-la do lado de fora.<br /><br />O que poderá ser? O que estará do outro lado?<br /><br />Sinto medo.<br /><br />A minha mão, presa pela gelatina, permanece esticada a uns meros milímetros da maçaneta.<br /><br />Hesito em abri-la.<br /><br />O que estará do outro lado? <br /><br />O medo domina-me.<br /><br />A porta ameaça saltar dos encaixes. O som dos abalos torna-se audível até se tornar insuportável. A sua violência é tanta que atinjo o ponto de saturação… <br /><br />Acordo sobressaltado! Abro os olhos, aflito!<br /><br />O quarto está mergulhado na penumbra. O mundo voltou ao normal! <br /><br />Afundo-me na cama aliviado. O ar preguiçoso enche-me os pulmões sem pressa. O coração abranda o seu ritmo gradualmente até ficar sereno, quase imóvel, no meu peito. O corpo, ainda dorido pela experiência traumatizante, relaxa assim que esvazio os pulmões muito lentamente. <br /><br />Sinto-me em segurança. Tudo não passou de um sonho…<br /> <br />Que sonho tão estranho e real! <br /><br />Incrível! Ainda tenho dificuldade em digerir o que aconteceu… <br /><br />Mas… agora que estou a salvo, fiquei curioso. <br /><br />O que encontraria do outro lado se tivesse conseguido abrir a porta?Rui Ramoshttp://www.blogger.com/profile/00683264486385239485noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-4974619299052168167.post-29654417007036659812010-11-18T13:22:00.000+00:002010-11-18T13:24:10.548+00:00O LabirintoA rota foi traçada com segurança pelo compasso de Albragaan no mapa inter-estelar da Academia de Cartografia Galáctica.<br /><br />O rumo a seguir era claro. <br /><br />Os preparativos para a expedição não se fizeram esperar. Ia partir sozinho, animado pela minha vontade de desvendar o Grande Segredo.<br /><br />Apanhei boleia de várias caravanas de mercadores e contrabandistas inter-galácticos que seguiam rotas secretas por entre estrelas e nebulosas, deixando-me cada vez mais próximo do objectivo. <br /><br /><br />Pelo caminho, visitei templos arruinados, santuários sagrados, palácios e mansões sumptuosas. Conheci populosas cidades imperiais, que moldavam a forma de planetas inteiros. Partilhei refeições com peregrinos e mendigos, ascetas e eremitas, barões e sultões, ladrões e guardiães, concubinas de haréns e prostitutas das sarjetas. <br /><br />Conheci riquezas sem fim e misérias insuportáveis. Fui desviado do caminho, seduzido, amado, traído, rejeitado, perseguido, roubado e abandonado à morte.<br /><br />E quando tudo parecia perdido, fui acolhido por uma companhia de saltimbancos, ciganos estelares. Vivi com eles durante anos, recuperei o meu rumo, o meu propósito, a minha identidade e um dia, despedi-me e continuei a minha jornada.<br /><br />Atravessei paisagens exóticas vedadas ao comum dos mortais. Vi planetas desertos, florestas de âmbar virgens, manadas de seres estelares, ouvi o canto das Plêiades, nadei em mares conscientes, caminhei por avenidas há muito abandonadas por Deuses extintos. Assisti ao nascimento de estrelas e de berços planetários. Presenciei a colisão de galáxias e o fim de inúmeros sistemas solares. Espreitei no interior dos buracos negros e aprendi a língua dos astros e a Música das Esferas.<br /><br />Até que por fim, depois de muitos anos de viagem, sofrimento e auto-conhecimento, cheguei ao meu objectivo: <br /><br />O Labirinto!<br /><br />Construção ancestral, cujas origens permanecem envoltas em mistério, tem a extensão de uma galáxia com vários anos-luz. O seu interior encerra a razão da minha busca, o motivo pelo qual errei pelo Cosmos por caminhos que nenhum mortal se atreveu a trilhar.<br /><br />Muitas lendas e avisos assaltam a minha mente, prevenindo-me contra os terríveis riscos que aguardam os incautos. Nunca ninguém regressou do Labirinto, mas também nunca ninguém chegou tão perto da sua entrada.<br /><br />É impossível prever o que os seus corredores infindáveis e tortuosos têm reservado para os invasores, nem tão pouco, saber se conseguirei revelar o Grande Segredo.<br /><br />Uma pequena semente de hesitação tenta criar raízes no meu espírito. Ali à boca negra da entrada do Labirinto, sinto a tentação de voltar atrás, de desistir. Um bafo gélido vindo do interior obscuro junta-se à horda crescente de medos e receios que ameaçam invadir-me e obrigar-me a ceder e partir de volta a casa, derrotado e humilhado.<br /><br />Todo o meu esforço seria em vão!<br /><br />Inspiro fundo, fecho os olhos e repouso em silêncio. Calmo, sereno, identifico cada uma das minhas dúvidas e expiro-as da minha alma, lentamente, uma a uma, pelas narinas. <br /><br />Não temerei nenhum mal!<br /><br />A vontade de avançar e enfrentar o meu destino arde forte no meu peito. Descobrir o significado oculto no Grande Segredo é tudo o que me resta, tudo o que me move. <br /><br />Sem perder mais tempo, voo para o interior do Labirinto e o brilho das estrelas é eclipsado pelo negro das paredes dos corredores intrincados. Mergulho na sua escuridão retorcida com um sentimento total de desprendimento. <br /><br />- Estou pronto! Estou livre! <br /><br />- Labirinto, aqui me tens! Desvenda os teus segredos!<br /><br />E assim, a Aventura começa, finalmente…Rui Ramoshttp://www.blogger.com/profile/00683264486385239485noreply@blogger.com5