- O tempo urge, - continua a voz. - os nossos inimigos seguiram-vos do futuro até aqui. Há éons que eles tentam capturar este templo sagrado. Para evitar cair nas suas mãos, decidi escondê-lo num passado remoto.
- Vivi durante milhões de anos no exílio longe do seu olhar mas assim que as correntes cósmicas mudaram percebi que o fluxo temporal iria abrir um novo portal e permitir que eles viajassem do futuro até aqui.
- Só me restou enviar uma mensagem de socorro às gerações futuras, numa arca que pudesse sobreviver a todas as intempéries da evolução terrestre, pois já não tinha forças para realizar outra viagem espaço-temporal para longe daqui.
- Os primeiros mestres acabaram por arrancar aos estratos rochosos do deserto a arca com a mensagem. – intervém o homem oitocentista. - Conseguiram abri-la ao fim de vários séculos de tentativas e a mensagem encriptada foi transmitida de geração em geração até que por fim um sacerdote núbio conseguiu descodificar o seu conteúdo e, seguindo as instruções, construiu a máquina do tempo que iria permitir abrir o portal para o passado.
- Mas a mensagem não continha apenas instruções para a construção de uma máquina do tempo. – o homem do futuro prossegue com o relato dos eventos. – Também tinha as coordenadas espaço-temporais para o viajante encontrar esta pirâmide facilmente e ainda, guardava o material genético necessário para criar o guardião perfeito. Foram necessárias várias gerações até que o Escolhido para a missão nascesse com esse material. E aqui está ele. – aponta para o homem oitocentista.
- No entanto, o vosso enviado, - a voz na escuridão retoma o discurso. - não estava preparado para sobreviver neste ambiente hostil. A sua tecnologia rudimentar não o protegera. Vi-o chegar e sufocar à primeira inspiração. Foi necessário enviar nova mensagem para o futuro com instruções claras e precisas quanto ao necessário para levar avante esta missão com sucesso.
Os dois homens ficam atordoados com a segunda revelação. Afinal, os seus mestres limitaram-se a seguir instruções escritas numa era geológica remota! Não tinham a capacidade de ver o passado ou comunicar com seres de diferentes espaço-tempos! Que desilusão!
- Agora o tempo dos planos e treinos chegou ao fim. – a voz misteriosa volta a fazer-se ouvir. - Os eleitos devem tomar as suas posições e suceder-me na luta contra os nossos inimigos.
Dito isto, uma luz acende-se de parte incerta para iluminar um cubículo talhado na parede rochosa. No seu interior, os dois homens vêem um cérebro esbranquiçado, coberto de fungos e pó.
- A minha missão terminou. Removam-me e coloquem no meu lugar, o cérebro do novo guardião. Rápido, os nossos inimigos estão prestes a abrir uma fenda na estrutura desta pirâmide.
O homem oitocentista remove com reverência o cérebro do seu antecessor, volta-se para o seu companheiro e diz-lhe determinado:
- Sabes o que tens a fazer.
O homem do futuro acena afirmativo e sem mais demoras abre-lhe o crânio com uma arma especialmente desenhada para o efeito e, com uma velocidade treinada, remove-lhe o cérebro ainda vivo para o colocar no cubículo vazio.
De mãos quentes cobertas de sangue, o coração a martelar-lhe no peito e em estado do choque, vê o corpo sem vida do seu amigo cair desamparado em câmara lenta e desaparecer nas trevas envolventes.
Acabara de matar aquele que ainda há pouco lhe salvara a vida. Apesar do seu treino, de toda a sua preparação para aquele momento, não consegue evitar um sentimento de mau estar e náusea. É assaltado por um turbilhão de emoções contraditórias A dúvida instala-se.
E se tudo foi em vão?
A luz que até então iluminara o cubículo apaga-se. Tudo volta a mergulhar nas trevas.
Um momento de expectativa... e nada. O silêncio e escuridão profundos.
- Falhámos! – as suas incertezas materializam-se num sussurro. – Todo este esforço conjunto durante milhões de anos… e falhámos!
Os ruídos do ataque lá fora, intensificam-se. As explosões abalam com maior violência todo o edifício sagrado.
Está tudo perdido!
A pirâmide, o foco de todo o Poder, está prestes a cair nas mãos daqueles que juraram destruir a Ordem Cósmica.
Derrotado, o homem do futuro, carrega a sua arma de plasma e prepara-se para cometer o único acto que ainda lhe resta.
As explosões aumentam de frequência. Uma brecha é aberta, o recinto é invadido por uma presença ameaçadora, oculta pela escuridão.
O homem levanta a arma e encosta-a à cabeça. Sente a electricidade estática a eriçar-lhe o cabelo. Não será uma morte bonita, mas não a teme.
- Adeus mundo! Tentei mas falhei.
Sente o invasor a acercar-se dele nas trevas. Uma sensação de enjoo revolta-lhe as entranhas e os seus ossos gelam.
A descarga brutal da sua arma pulveriza-lhe a cabeça, salvando-o no último instante das garras do seu inimigo.
Tentei mas falhei…
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
O Olho que tudo vê (2ª parte)
Com os instintos aguçados por anos de treino, o homem do futuro empurra o companheiro para o lado, salvando-o de uma dentada mortal e dispara uma descarga de energia, estorricando o dinossauro.
Seguindo-lhe o exemplo, o homem oitocentista, solta a potência da sua arma de plasma, eliminando o outro predador.
- Aha! Vencemos! – festejou satisfeito.
- Não! – responde-lhe o companheiro do futuro, enquanto, puxa umas fivelas do seu estranho fato. - Esta espécie ataca sempre em grupo, mais virão. Temos que chegar à pirâmide antes que apareçam.
- E como o faremos se não temos asas para voar? – pergunta o oitocentista com a adrenalina à flor da pele.
- No tempo de onde venho não precisamos de asas para voar. – dizendo isto, o homem do futuro lança-se no precepício, arrastando-o consigo.
Perplexo o homem do século XVIII, vê-se a pairar no ar.
- Como é possível?
- Este fato tem um sistema antigravidade especialmente concebido para esta missão. Os mestres da nossa ordem, do teu futuro e do meu presente, viram que seria necessário transpor este precipício para chegar à pirâmide.
- Eles previram tudo! É deveras extraordinário!
- Nem por isso, limitaram-se a olhar para o passado e registar o que seria necessário para ser bem sucedido.
- Ainda me dá um nó na cabeça ao tentar perceber como é possível.
O homem do futuro ri-se solidário.
- Eu deixo as questões técnicas para os mestres.
Os dois voam da borda do precipício até ao topo da pirâmide onde se eleva o grande Olho que Tudo Vê.
- É aqui neste ponto entre a pirâmide e o Olho que segundo os manuscritos que encontrei junto do sacerdote núbio, encontraremos a passagem. Não olhes directamente para o Olho. – adverte o homem oitocentista.
- Eu sei. Fui treinado toda a minha vida para este dia. – tranquiliza o homem do futuro.
Uma descarga de energia atinge a pirâmide numa explosão, sacudindo os dois homens do seu lugar.
Nova explosão e o homem do futuro desequilibra-se e cai do alto da pirâmide rumo ao precipício. O homem oitocentista atira-se para a frente mesmo a tempo de lhe agarrar a mão, salvando da morte.
- Consegues içar-te pelo meu braço? – pergunta por entre os dentes cerrados num esgar de esforço.
- Sem problemas. - O homem do futuro, atlético, conseguiu apoiar um dos pés na parede da pirâmide e com um impulso trepou pelo forte braço do amigo.
- Obrigado! Duvido que o fato anti-gravidade tivesse energia suficiente para me salvar o pescoço da queda.
- Agora estamos quites. – o oitocentista sorri-lhe, mas a expressão muda radicalmente. - Olha para o céu, a invasão começou! Temos que nos despachar.
O homem do futuro levanta o olhar na direcção indicada e não acredita no que vê. Toda a vida foi treinado para esta missão, sabia exactamente o que tinha pela frente, mesmo assim, não consegue evitar o choque da visão do seu inimigo ao vivo.
Os dois homens apressam-se a atravessar a porta que entretanto se abriu à sua frente, no espaço entre a pirâmide e o Olho radiante.
Mergulham na escuridão. Muito ao longe conseguem ouvir as explosões abafadas do ataque.
Faz-se ouvir uma voz que ecoa no espaço imenso:
- A minha mensagem foi recebida.
- Sim e nós respondemos. – dizem prontamente e em uníssono os dois homens. – Do futuro viemos para vos salvar.
Continua.
Seguindo-lhe o exemplo, o homem oitocentista, solta a potência da sua arma de plasma, eliminando o outro predador.
- Aha! Vencemos! – festejou satisfeito.
- Não! – responde-lhe o companheiro do futuro, enquanto, puxa umas fivelas do seu estranho fato. - Esta espécie ataca sempre em grupo, mais virão. Temos que chegar à pirâmide antes que apareçam.
- E como o faremos se não temos asas para voar? – pergunta o oitocentista com a adrenalina à flor da pele.
- No tempo de onde venho não precisamos de asas para voar. – dizendo isto, o homem do futuro lança-se no precepício, arrastando-o consigo.
Perplexo o homem do século XVIII, vê-se a pairar no ar.
- Como é possível?
- Este fato tem um sistema antigravidade especialmente concebido para esta missão. Os mestres da nossa ordem, do teu futuro e do meu presente, viram que seria necessário transpor este precipício para chegar à pirâmide.
- Eles previram tudo! É deveras extraordinário!
- Nem por isso, limitaram-se a olhar para o passado e registar o que seria necessário para ser bem sucedido.
- Ainda me dá um nó na cabeça ao tentar perceber como é possível.
O homem do futuro ri-se solidário.
- Eu deixo as questões técnicas para os mestres.
Os dois voam da borda do precipício até ao topo da pirâmide onde se eleva o grande Olho que Tudo Vê.
- É aqui neste ponto entre a pirâmide e o Olho que segundo os manuscritos que encontrei junto do sacerdote núbio, encontraremos a passagem. Não olhes directamente para o Olho. – adverte o homem oitocentista.
- Eu sei. Fui treinado toda a minha vida para este dia. – tranquiliza o homem do futuro.
Uma descarga de energia atinge a pirâmide numa explosão, sacudindo os dois homens do seu lugar.
Nova explosão e o homem do futuro desequilibra-se e cai do alto da pirâmide rumo ao precipício. O homem oitocentista atira-se para a frente mesmo a tempo de lhe agarrar a mão, salvando da morte.
- Consegues içar-te pelo meu braço? – pergunta por entre os dentes cerrados num esgar de esforço.
- Sem problemas. - O homem do futuro, atlético, conseguiu apoiar um dos pés na parede da pirâmide e com um impulso trepou pelo forte braço do amigo.
- Obrigado! Duvido que o fato anti-gravidade tivesse energia suficiente para me salvar o pescoço da queda.
- Agora estamos quites. – o oitocentista sorri-lhe, mas a expressão muda radicalmente. - Olha para o céu, a invasão começou! Temos que nos despachar.
O homem do futuro levanta o olhar na direcção indicada e não acredita no que vê. Toda a vida foi treinado para esta missão, sabia exactamente o que tinha pela frente, mesmo assim, não consegue evitar o choque da visão do seu inimigo ao vivo.
Os dois homens apressam-se a atravessar a porta que entretanto se abriu à sua frente, no espaço entre a pirâmide e o Olho radiante.
Mergulham na escuridão. Muito ao longe conseguem ouvir as explosões abafadas do ataque.
Faz-se ouvir uma voz que ecoa no espaço imenso:
- A minha mensagem foi recebida.
- Sim e nós respondemos. – dizem prontamente e em uníssono os dois homens. – Do futuro viemos para vos salvar.
Continua.
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
O Olho que Tudo Vê (1ª parte)
Veneza, Carnaval de 1800.
As ruas e canais enchem-se de cor e foliões mascarados. Música e gargalhadas ecoam pelas vielas estreitas e escuras da Eterna Sereníssima. A alegria é rapidamente oprimida pela mão pesada das tropas invasoras napoleónicas. Alguns tiros são disparados. Ouvem-se gritos. A multidão festiva dispersa, evitando as detenções.
No meio do tumulto gerado, um homem esgueira-se por uma ponte e sobe para uma gôndola que o aguardava do outro lado do canal. Paga ao gondoleiro e este condú-lo em silêncio pelas águas da cidade que adormece lentamente.
A gôndola chega ao seu destino e o homem misterioso, sem uma palavra de despedida, salta para a margem e dirige-se a uma porta fechada de uma velha moradia. Bate-lhe com o toque secreto que lhe foi segredado de manhã no mercado em frente à catedral de São Marcos. A porta abre-se e dá-lhe passagem para o interior.
Um mordomo mascarado recebe-o com um archote e guia-o por uma escadaria em espiral que desce até às catacumbas mais profundas e antigas de Veneza. À sua espera, encontra-se um grupo de homens bem vestidos, mascarados e de aparência aristocrática.
- Sê bem-vindo, confrade! Trazeis o artefacto?
- Sim, a expedição ao Egipto foi um êxito! Consegui encontrá-lo dentro da múmia do sacerdote núbio Akothep.
- Óptimo! Temos que nos despachar, antes que as tropas de Napoleão nos encontrem.
A irmandade secreta não perde mais tempo, forma um círculo à volta do artefacto e dão início ao ritual.
Alguns minutos depois, a catacumba ilumina-se por uma cor fosforescente e uma porta inter-dimensional abre-se a partir do artefacto.
- A passagem está aberta! Parti, caro irmão, e que os mestres vos concedam triunfo. O nosso futuro depende do vosso sucesso.
O homem misterioso despede-se dos companheiros e, sem hesitar, atravessa o portal.
Do outro lado, encontra uma floresta luxuriante repleta de seres vivos que ele apenas conhecia do registo fóssil. Mas o seu fascínio depressa é suplantado por uma constatação grave: não consegue respirar!
Tenta dominar o pânico mas acaba por desfalecer.
Os sentidos regressam lentamente e o homem misterioso desperta para a vida. Leva as mãos à cara e sente que esta está protegida por uma máscara estranha de vidro.
- É uma máscara de oxigénio. Se fosse a ti, não a tirava, pois o ar deste sítio é-nos tóxico. - responde-lhe um desconhecido com o rosto tapado por uma máscara igual à sua.– Na época em que foste enviado era-vos impossível saber que a atmosfera neste período pré-histórico nos é irrespirável, por isso, os mestres da nossa ordem, no teu futuro, acharam por bem enviar-me com a tecnologia necessária para te assistir na tua importante missão.
- Toma. – continuou o homem do futuro. – É uma pistola de plasma. Liberta descargas eléctricas, como se fosses Zeus em pessoa.
O homem oitocentista olha para a arma simples que se assemelha a um bastão curto com um botão a servir de gatilho.
- Agora temos que nos despachar, está quase na hora. – informa o homem do futuro com um tom imperativo.
Sem mais palavras, os dois membros da ordem secreta correm pela floresta densa do Cretácico, rumo ao seu destino.
Chegam por fim à borda de um precipício que se abre sobre uma cratera profunda. Várias cataratas enchem o seu fundo com um lago cristalino, formando uma paisagem de cortar a respiração.
A pairar no ar sobre o espelho de água, está uma pirâmide colossal construída de metal e pedra talhada, coroada por um olho radiante como uma estrela.
- O Olho que tudo vê! – exclama o homem oitocentista.
Os dois fitam hipnotizados o olhar supremo da pirâmide.
De imediato, são inundados por uma torrente de imagens, tudo aquilo que foi, que é e um dia será, condensados num instante estonteante. Todos os fluxos temporais do cosmos confluem para aquele momento. O homem oitocentista confirma a gravidade da sua missão. Tudo depende dele. Não pode falhar.
Um uivo cacarejado arranca-os de volta ao tempo presente. Ouvem-se vários outros uivos em resposta ao primeiro, lançando o pânico esvoaçante na floresta circundante. Os instintos de sobrevivência disparam, estão em risco de vida.
Continua.
As ruas e canais enchem-se de cor e foliões mascarados. Música e gargalhadas ecoam pelas vielas estreitas e escuras da Eterna Sereníssima. A alegria é rapidamente oprimida pela mão pesada das tropas invasoras napoleónicas. Alguns tiros são disparados. Ouvem-se gritos. A multidão festiva dispersa, evitando as detenções.
No meio do tumulto gerado, um homem esgueira-se por uma ponte e sobe para uma gôndola que o aguardava do outro lado do canal. Paga ao gondoleiro e este condú-lo em silêncio pelas águas da cidade que adormece lentamente.
A gôndola chega ao seu destino e o homem misterioso, sem uma palavra de despedida, salta para a margem e dirige-se a uma porta fechada de uma velha moradia. Bate-lhe com o toque secreto que lhe foi segredado de manhã no mercado em frente à catedral de São Marcos. A porta abre-se e dá-lhe passagem para o interior.
Um mordomo mascarado recebe-o com um archote e guia-o por uma escadaria em espiral que desce até às catacumbas mais profundas e antigas de Veneza. À sua espera, encontra-se um grupo de homens bem vestidos, mascarados e de aparência aristocrática.
- Sê bem-vindo, confrade! Trazeis o artefacto?
- Sim, a expedição ao Egipto foi um êxito! Consegui encontrá-lo dentro da múmia do sacerdote núbio Akothep.
- Óptimo! Temos que nos despachar, antes que as tropas de Napoleão nos encontrem.
A irmandade secreta não perde mais tempo, forma um círculo à volta do artefacto e dão início ao ritual.
Alguns minutos depois, a catacumba ilumina-se por uma cor fosforescente e uma porta inter-dimensional abre-se a partir do artefacto.
- A passagem está aberta! Parti, caro irmão, e que os mestres vos concedam triunfo. O nosso futuro depende do vosso sucesso.
O homem misterioso despede-se dos companheiros e, sem hesitar, atravessa o portal.
Do outro lado, encontra uma floresta luxuriante repleta de seres vivos que ele apenas conhecia do registo fóssil. Mas o seu fascínio depressa é suplantado por uma constatação grave: não consegue respirar!
Tenta dominar o pânico mas acaba por desfalecer.
Os sentidos regressam lentamente e o homem misterioso desperta para a vida. Leva as mãos à cara e sente que esta está protegida por uma máscara estranha de vidro.
- É uma máscara de oxigénio. Se fosse a ti, não a tirava, pois o ar deste sítio é-nos tóxico. - responde-lhe um desconhecido com o rosto tapado por uma máscara igual à sua.– Na época em que foste enviado era-vos impossível saber que a atmosfera neste período pré-histórico nos é irrespirável, por isso, os mestres da nossa ordem, no teu futuro, acharam por bem enviar-me com a tecnologia necessária para te assistir na tua importante missão.
- Toma. – continuou o homem do futuro. – É uma pistola de plasma. Liberta descargas eléctricas, como se fosses Zeus em pessoa.
O homem oitocentista olha para a arma simples que se assemelha a um bastão curto com um botão a servir de gatilho.
- Agora temos que nos despachar, está quase na hora. – informa o homem do futuro com um tom imperativo.
Sem mais palavras, os dois membros da ordem secreta correm pela floresta densa do Cretácico, rumo ao seu destino.
Chegam por fim à borda de um precipício que se abre sobre uma cratera profunda. Várias cataratas enchem o seu fundo com um lago cristalino, formando uma paisagem de cortar a respiração.
A pairar no ar sobre o espelho de água, está uma pirâmide colossal construída de metal e pedra talhada, coroada por um olho radiante como uma estrela.
- O Olho que tudo vê! – exclama o homem oitocentista.
Os dois fitam hipnotizados o olhar supremo da pirâmide.
De imediato, são inundados por uma torrente de imagens, tudo aquilo que foi, que é e um dia será, condensados num instante estonteante. Todos os fluxos temporais do cosmos confluem para aquele momento. O homem oitocentista confirma a gravidade da sua missão. Tudo depende dele. Não pode falhar.
Um uivo cacarejado arranca-os de volta ao tempo presente. Ouvem-se vários outros uivos em resposta ao primeiro, lançando o pânico esvoaçante na floresta circundante. Os instintos de sobrevivência disparam, estão em risco de vida.
Continua.
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
A Porta
Uma vibração percorre todo o meu corpo e desperta-me para a dor. Os meus ossos são sacudidos como se um terramoto tivesse o seu hipocentro dentro de mim. Abro os olhos em estado de choque. O que se passa? O que é isto?
O quarto está mergulhado numa luz esverdeada, doentia, sobrenatural. Olho para o meu corpo deitado na cama, coberto de suor e abalado violentamente por ondas sísmicas internas.
A intensidade aumenta e torna-se insuportável. Vou estilhaçar-me!
Tento gritar mas o ar é tão espesso como gelatina que abafa o som.
Isto não pode estar a acontecer! Só pode ser um sonho!
O meu cérebro luta para manter-se lúcido e sobreviver à dor.
Só pode ser um sonho! Repito vezes sem conta, até conseguir controlar o sofrimento real que o meu organismo está a experimentar.
Tenho que sair daqui! Tenho que acordar!
Ainda a ser atravessado por tremores de dor aguda, esforço-me por levantar da cama onde dormia até há instantes. Descubro com desespero, que a força da gravidade aumentou para o dobro e a atmosfera gelatinosa que me envolve, prende-me os movimentos.
Isto é só um sonho! Convenço-me. Eu consigo!
E com um esforço incrível de vontade e força física rasgo aquela substância pegajosa e avanço penosamente e com muito custo, rumo à porta do quarto.
Os abalos que me fustigam e drenavam a energia, ganham nova violência e espalham-se, agora, por todo o quarto. A própria matriz do Universo ameaça colapsar. Debato-me por manter o equilíbrio.
A porta está a poucos passos de distância mas aquela atmosfera densa, quase sólida, que me obriga a espremer-me para a atravessar, mais os tremores que abanam tudo que é interno e externo desta realidade contra-natura, tornam a minha progressão numa missão quase impossível!
A dor é insuportável! Estou esgotado! Não posso mais!
Conquisto mais um passo e a porta de saída fica mais próxima. A porta da minha salvação!
Tenho que conseguir!
Mais outro passo e estico a mão em direcção à maçaneta da porta, perfurando a gelatina que me envolve.
A dor! É tão intensa!
Estou quase a tocar-lhe com a ponta dos dedos. Estou quase a escapar deste inferno sísmico e gelatinoso de dor excruciante…
De repente, uma luz perfurante surge por detrás da porta, escapando-se pelas suas frinchas, atingindo-me os olhos. Fecho-os por reflexo.
O desespero invade-me como uma torrente furiosa e esmaga o meu espírito martirizado e esgotado. As dores não me dão tréguas. Estou a perder-me…
Não posso desistir! Volto a lutar para manter o controlo. Isto é só um sonho!
Semi-abro os olhos com receio de os ferir com a nova luminosidade e vejo a porta a ser abanada freneticamente por uma força invisível. Alguém ou alguma coisa está a tentar arrombá-la do lado de fora.
O que poderá ser? O que estará do outro lado?
Sinto medo.
A minha mão, presa pela gelatina, permanece esticada a uns meros milímetros da maçaneta.
Hesito em abri-la.
O que estará do outro lado?
O medo domina-me.
A porta ameaça saltar dos encaixes. O som dos abalos torna-se audível até se tornar insuportável. A sua violência é tanta que atinjo o ponto de saturação…
Acordo sobressaltado! Abro os olhos, aflito!
O quarto está mergulhado na penumbra. O mundo voltou ao normal!
Afundo-me na cama aliviado. O ar preguiçoso enche-me os pulmões sem pressa. O coração abranda o seu ritmo gradualmente até ficar sereno, quase imóvel, no meu peito. O corpo, ainda dorido pela experiência traumatizante, relaxa assim que esvazio os pulmões muito lentamente.
Sinto-me em segurança. Tudo não passou de um sonho…
Que sonho tão estranho e real!
Incrível! Ainda tenho dificuldade em digerir o que aconteceu…
Mas… agora que estou a salvo, fiquei curioso.
O que encontraria do outro lado se tivesse conseguido abrir a porta?
O quarto está mergulhado numa luz esverdeada, doentia, sobrenatural. Olho para o meu corpo deitado na cama, coberto de suor e abalado violentamente por ondas sísmicas internas.
A intensidade aumenta e torna-se insuportável. Vou estilhaçar-me!
Tento gritar mas o ar é tão espesso como gelatina que abafa o som.
Isto não pode estar a acontecer! Só pode ser um sonho!
O meu cérebro luta para manter-se lúcido e sobreviver à dor.
Só pode ser um sonho! Repito vezes sem conta, até conseguir controlar o sofrimento real que o meu organismo está a experimentar.
Tenho que sair daqui! Tenho que acordar!
Ainda a ser atravessado por tremores de dor aguda, esforço-me por levantar da cama onde dormia até há instantes. Descubro com desespero, que a força da gravidade aumentou para o dobro e a atmosfera gelatinosa que me envolve, prende-me os movimentos.
Isto é só um sonho! Convenço-me. Eu consigo!
E com um esforço incrível de vontade e força física rasgo aquela substância pegajosa e avanço penosamente e com muito custo, rumo à porta do quarto.
Os abalos que me fustigam e drenavam a energia, ganham nova violência e espalham-se, agora, por todo o quarto. A própria matriz do Universo ameaça colapsar. Debato-me por manter o equilíbrio.
A porta está a poucos passos de distância mas aquela atmosfera densa, quase sólida, que me obriga a espremer-me para a atravessar, mais os tremores que abanam tudo que é interno e externo desta realidade contra-natura, tornam a minha progressão numa missão quase impossível!
A dor é insuportável! Estou esgotado! Não posso mais!
Conquisto mais um passo e a porta de saída fica mais próxima. A porta da minha salvação!
Tenho que conseguir!
Mais outro passo e estico a mão em direcção à maçaneta da porta, perfurando a gelatina que me envolve.
A dor! É tão intensa!
Estou quase a tocar-lhe com a ponta dos dedos. Estou quase a escapar deste inferno sísmico e gelatinoso de dor excruciante…
De repente, uma luz perfurante surge por detrás da porta, escapando-se pelas suas frinchas, atingindo-me os olhos. Fecho-os por reflexo.
O desespero invade-me como uma torrente furiosa e esmaga o meu espírito martirizado e esgotado. As dores não me dão tréguas. Estou a perder-me…
Não posso desistir! Volto a lutar para manter o controlo. Isto é só um sonho!
Semi-abro os olhos com receio de os ferir com a nova luminosidade e vejo a porta a ser abanada freneticamente por uma força invisível. Alguém ou alguma coisa está a tentar arrombá-la do lado de fora.
O que poderá ser? O que estará do outro lado?
Sinto medo.
A minha mão, presa pela gelatina, permanece esticada a uns meros milímetros da maçaneta.
Hesito em abri-la.
O que estará do outro lado?
O medo domina-me.
A porta ameaça saltar dos encaixes. O som dos abalos torna-se audível até se tornar insuportável. A sua violência é tanta que atinjo o ponto de saturação…
Acordo sobressaltado! Abro os olhos, aflito!
O quarto está mergulhado na penumbra. O mundo voltou ao normal!
Afundo-me na cama aliviado. O ar preguiçoso enche-me os pulmões sem pressa. O coração abranda o seu ritmo gradualmente até ficar sereno, quase imóvel, no meu peito. O corpo, ainda dorido pela experiência traumatizante, relaxa assim que esvazio os pulmões muito lentamente.
Sinto-me em segurança. Tudo não passou de um sonho…
Que sonho tão estranho e real!
Incrível! Ainda tenho dificuldade em digerir o que aconteceu…
Mas… agora que estou a salvo, fiquei curioso.
O que encontraria do outro lado se tivesse conseguido abrir a porta?
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
O Labirinto
A rota foi traçada com segurança pelo compasso de Albragaan no mapa inter-estelar da Academia de Cartografia Galáctica.
O rumo a seguir era claro.
Os preparativos para a expedição não se fizeram esperar. Ia partir sozinho, animado pela minha vontade de desvendar o Grande Segredo.
Apanhei boleia de várias caravanas de mercadores e contrabandistas inter-galácticos que seguiam rotas secretas por entre estrelas e nebulosas, deixando-me cada vez mais próximo do objectivo.
Pelo caminho, visitei templos arruinados, santuários sagrados, palácios e mansões sumptuosas. Conheci populosas cidades imperiais, que moldavam a forma de planetas inteiros. Partilhei refeições com peregrinos e mendigos, ascetas e eremitas, barões e sultões, ladrões e guardiães, concubinas de haréns e prostitutas das sarjetas.
Conheci riquezas sem fim e misérias insuportáveis. Fui desviado do caminho, seduzido, amado, traído, rejeitado, perseguido, roubado e abandonado à morte.
E quando tudo parecia perdido, fui acolhido por uma companhia de saltimbancos, ciganos estelares. Vivi com eles durante anos, recuperei o meu rumo, o meu propósito, a minha identidade e um dia, despedi-me e continuei a minha jornada.
Atravessei paisagens exóticas vedadas ao comum dos mortais. Vi planetas desertos, florestas de âmbar virgens, manadas de seres estelares, ouvi o canto das Plêiades, nadei em mares conscientes, caminhei por avenidas há muito abandonadas por Deuses extintos. Assisti ao nascimento de estrelas e de berços planetários. Presenciei a colisão de galáxias e o fim de inúmeros sistemas solares. Espreitei no interior dos buracos negros e aprendi a língua dos astros e a Música das Esferas.
Até que por fim, depois de muitos anos de viagem, sofrimento e auto-conhecimento, cheguei ao meu objectivo:
O Labirinto!
Construção ancestral, cujas origens permanecem envoltas em mistério, tem a extensão de uma galáxia com vários anos-luz. O seu interior encerra a razão da minha busca, o motivo pelo qual errei pelo Cosmos por caminhos que nenhum mortal se atreveu a trilhar.
Muitas lendas e avisos assaltam a minha mente, prevenindo-me contra os terríveis riscos que aguardam os incautos. Nunca ninguém regressou do Labirinto, mas também nunca ninguém chegou tão perto da sua entrada.
É impossível prever o que os seus corredores infindáveis e tortuosos têm reservado para os invasores, nem tão pouco, saber se conseguirei revelar o Grande Segredo.
Uma pequena semente de hesitação tenta criar raízes no meu espírito. Ali à boca negra da entrada do Labirinto, sinto a tentação de voltar atrás, de desistir. Um bafo gélido vindo do interior obscuro junta-se à horda crescente de medos e receios que ameaçam invadir-me e obrigar-me a ceder e partir de volta a casa, derrotado e humilhado.
Todo o meu esforço seria em vão!
Inspiro fundo, fecho os olhos e repouso em silêncio. Calmo, sereno, identifico cada uma das minhas dúvidas e expiro-as da minha alma, lentamente, uma a uma, pelas narinas.
Não temerei nenhum mal!
A vontade de avançar e enfrentar o meu destino arde forte no meu peito. Descobrir o significado oculto no Grande Segredo é tudo o que me resta, tudo o que me move.
Sem perder mais tempo, voo para o interior do Labirinto e o brilho das estrelas é eclipsado pelo negro das paredes dos corredores intrincados. Mergulho na sua escuridão retorcida com um sentimento total de desprendimento.
- Estou pronto! Estou livre!
- Labirinto, aqui me tens! Desvenda os teus segredos!
E assim, a Aventura começa, finalmente…
O rumo a seguir era claro.
Os preparativos para a expedição não se fizeram esperar. Ia partir sozinho, animado pela minha vontade de desvendar o Grande Segredo.
Apanhei boleia de várias caravanas de mercadores e contrabandistas inter-galácticos que seguiam rotas secretas por entre estrelas e nebulosas, deixando-me cada vez mais próximo do objectivo.
Pelo caminho, visitei templos arruinados, santuários sagrados, palácios e mansões sumptuosas. Conheci populosas cidades imperiais, que moldavam a forma de planetas inteiros. Partilhei refeições com peregrinos e mendigos, ascetas e eremitas, barões e sultões, ladrões e guardiães, concubinas de haréns e prostitutas das sarjetas.
Conheci riquezas sem fim e misérias insuportáveis. Fui desviado do caminho, seduzido, amado, traído, rejeitado, perseguido, roubado e abandonado à morte.
E quando tudo parecia perdido, fui acolhido por uma companhia de saltimbancos, ciganos estelares. Vivi com eles durante anos, recuperei o meu rumo, o meu propósito, a minha identidade e um dia, despedi-me e continuei a minha jornada.
Atravessei paisagens exóticas vedadas ao comum dos mortais. Vi planetas desertos, florestas de âmbar virgens, manadas de seres estelares, ouvi o canto das Plêiades, nadei em mares conscientes, caminhei por avenidas há muito abandonadas por Deuses extintos. Assisti ao nascimento de estrelas e de berços planetários. Presenciei a colisão de galáxias e o fim de inúmeros sistemas solares. Espreitei no interior dos buracos negros e aprendi a língua dos astros e a Música das Esferas.
Até que por fim, depois de muitos anos de viagem, sofrimento e auto-conhecimento, cheguei ao meu objectivo:
O Labirinto!
Construção ancestral, cujas origens permanecem envoltas em mistério, tem a extensão de uma galáxia com vários anos-luz. O seu interior encerra a razão da minha busca, o motivo pelo qual errei pelo Cosmos por caminhos que nenhum mortal se atreveu a trilhar.
Muitas lendas e avisos assaltam a minha mente, prevenindo-me contra os terríveis riscos que aguardam os incautos. Nunca ninguém regressou do Labirinto, mas também nunca ninguém chegou tão perto da sua entrada.
É impossível prever o que os seus corredores infindáveis e tortuosos têm reservado para os invasores, nem tão pouco, saber se conseguirei revelar o Grande Segredo.
Uma pequena semente de hesitação tenta criar raízes no meu espírito. Ali à boca negra da entrada do Labirinto, sinto a tentação de voltar atrás, de desistir. Um bafo gélido vindo do interior obscuro junta-se à horda crescente de medos e receios que ameaçam invadir-me e obrigar-me a ceder e partir de volta a casa, derrotado e humilhado.
Todo o meu esforço seria em vão!
Inspiro fundo, fecho os olhos e repouso em silêncio. Calmo, sereno, identifico cada uma das minhas dúvidas e expiro-as da minha alma, lentamente, uma a uma, pelas narinas.
Não temerei nenhum mal!
A vontade de avançar e enfrentar o meu destino arde forte no meu peito. Descobrir o significado oculto no Grande Segredo é tudo o que me resta, tudo o que me move.
Sem perder mais tempo, voo para o interior do Labirinto e o brilho das estrelas é eclipsado pelo negro das paredes dos corredores intrincados. Mergulho na sua escuridão retorcida com um sentimento total de desprendimento.
- Estou pronto! Estou livre!
- Labirinto, aqui me tens! Desvenda os teus segredos!
E assim, a Aventura começa, finalmente…
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